O Deus da Carnificina, Roman Polanski
Teatro camuflado, espécie de peça contemporânea, e por isso traiçoeira, provocatória. Influência da mecânica de outrora dos grandes estúdios de Hollywood, onde tudo era diálogo, onde tudo era reflectido e meticulosamente adequado, onde tudo era equilibrado sob o ponto de vista narrativo.
Teatro camuflado, espécie de peça contemporânea, e por isso traiçoeira, provocatória. Influência da mecânica de outrora dos grandes estúdios de Hollywood, onde tudo era diálogo, onde tudo era reflectido e meticulosamente adequado, onde tudo era equilibrado sob o ponto de vista narrativo.
É nestes contornos que Polanski idealiza e concretiza este exercício, partindo para isso da adaptação da peça que lhe dá corpo. Exercício, porque nascendo do teatro, é isso mesmo que evidencia. Não importa se aquela cena ou se aquele adereço se encontra "direitinho", o que interessa é a fluidez, a espontaneidade, o momento, o que sai na hora e naquelas circunstâncias. Nessa linha, o contributo dos respectivos pares de protagonistas (e únicos actores do filme) é excelente, diga-se. Aliás é tudo. É o próprio filme. E, se por um lado, isso perfaz uma ou outra cena de génio, por outro não finaliza um produto igualmente genial, para efeitos de cinema propriamente dito. A realização é contida, perfeitamente enquadrada, mas pouco interessante. O cineasta já nos ofereceu, nessa sua recorrência a espaços confinados e potencialmente infinitos, ambientes bem mais cativantes (em Repulsion, The Tenant ou até mesmo em Rosemary's Baby).
O argumento, sendo bom, tem ainda assim também alguns defeitos, alguma insatisfação aqui e ali, numa certa redundância e inconsequência dos temas. O que não retira de todo a experiência em si, o modo de expôr uma ideia, de arquitectar um esboço e explorá-lo até aos limites. Por vezes, é com uma certa dose de risco, na diferença, que se obtém algo para a prosperidade, algo que marque e contribue para a evolução do cinema (aqui na relação estreita com o teatro). Pelo menos que o distinga da panóplia de repetições, sequelas e afins que o conduzem sempre ao mesmo.
O argumento, sendo bom, tem ainda assim também alguns defeitos, alguma insatisfação aqui e ali, numa certa redundância e inconsequência dos temas. O que não retira de todo a experiência em si, o modo de expôr uma ideia, de arquitectar um esboço e explorá-lo até aos limites. Por vezes, é com uma certa dose de risco, na diferença, que se obtém algo para a prosperidade, algo que marque e contribue para a evolução do cinema (aqui na relação estreita com o teatro). Pelo menos que o distinga da panóplia de repetições, sequelas e afins que o conduzem sempre ao mesmo.
Por outro lado, Twelve Angry Men ou Who's Afraid of Virginia Woolf? são fatias do mesmo bolo, tiradas há bem mais tempo e acabando no final por agradar mais. No caso de Carnage, fica somente (atendendo ao potencial) um bom filme e um louvável esforço.
★★★★★★★★★★
Jorge Teixeira
Jorge Teixeira
classificação: 7/10
links: IMDb, FilmAffinity, ICheckMovies, MUBI