20.10.12

5 Grandes Filmes de Terror (3)


Psico, Alfred Hitchcock

The Texas Chain Saw Massacre (1974)
Massacre no Texas, Tobe Hooper

Halloween (1978)
Halloween - O Regresso do Mal, John Carpenter

A Nightmare on Elm Street (1984)
Pesadelo em Elm StreetWes Craven

Saw (2004)
Saw - Enigma Mortal, James Wan

por Jorge Teixeira e Pedro Teixeira

18.10.12

Bandas Sonoras (2)

Raging Bull (1980), Martin Scorsese


Pertencente ao interlúdio da aclamada e famosa ópera Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni, este tema torna-se o elemento chave, qual cereja no topo do bolo, para a derradeira imortalidade e sucesso da obra de Scorsese. Na ausência de banda sonora, a presença desta música como que ainda ressoa, e a cena correspondente inicial perdura até aos dias de hoje, no que será provavelmente uma das melhores entradas de sempre de que o cinema já produziu. Transcendente e de rara poesia.

Por intermédio desta faixa, inserida no início e no final do acto (curiosamente os extremos do seu propósito original), o filme ganha todo um sentido mais uno, cíclico e completo, como uma porta que se abre e que se fecha quando já se contou tudo o que havia para contar, quando uma vida deixa de ter reflexões e memórias que valham a pena partilhar. Arrancamos, assim, de forma fulgurante, e porque não mágica, para uma experiência avassaladora, no seu núcleo fria e silenciosa, mas poderosa que baste e que se exceda, para no fim regressarmos novamente à contemplação e introspecção de uma autêntica lição de vida.

16.10.12

Dersu Uzala (1975)

Dersu Uzala - a Águia da Estepe, Akira Kurosawa


Filme riquíssimo na mensagem, na narrativa, naquilo de que talvez o cinema mais precisa hoje em dia – verdade. Essa verdade é-nos dada através de Dersu Uzala, personagem que dá título ao filme, um homem de idade avançada e de estatura diminuta que vive da e para a natureza, que se movimenta como se da própria estrutura elementar da mesma fizesse parte, o que na realidade até faz. Todo o ser-humano é parte integrante e insignificante de um todo, em perfeita comunhão com o primitivo e selvagem. Dersu é por isso uma personificação de um estado antigo, de uma vivência pré-temporal nostálgica, sábia e experienciada. Tal como ele próprio, com a sua humildade, está constantemente a evidenciar perante a arrogância e ignorância do exército russo e do seu oficial, recém chegados. Facto que este último acaba por perceber passando de imediato a admirar, contrariando assim a tendência, ao ponto de erguer uma amizade sem precedentes e começá-lo a seguir cegamente pelos meandros do desconhecido e da aventura.

Ás tantas, e lá mais para o fim, a situação inverte-se, invertendo-se também o espaço (e o tempo) para os dois protagonistas. A amizade conquistada fortalece-se, mas as motivações, os medos, os prazeres e a rotina trocam de lado e adensam-se, inevitavelmente. Surgem então as dificuldades onde antes residiam apenas facilidades (e vice-versa), demasiado evidentes e desconfortáveis, tão fortes quanto a dureza da personalidade em si, ou tão rígidas quanto a inflexibilidade do orgulho. Tudo se resumirá às mais pequenas e pertinentes questões: estará  Dersu, um homem que respira a floresta e o campo como se de oxigénio se tratasse, preparado para enfrentar o meio Urbano, o meio onde o ambiente é mecanizado, formatado e contido? Ou alguma vez conseguirá um cidadão (como o oficial russo) assimilar tamanho conhecimento e destreza humanas no acto de sobrevivência e subsistência no meio selvagem? As respostas não são simples, nem tão pouco conclusivas perante o que assistimos. Bem patente, no entanto, revela-se a pequenez humana perante a magnitude das paisagens, sobretudo, a selvagem, a mais verdadeira, aquela a que Dersu faz parte e a que o oficial russo (e nós) nos apercebemos como mais poderosa e essencial (ainda com tanto por desvendar).

Trata-se, pois, de um exercício narrativo e didáctico tremendo e muito bem escrito. Kurosawa, num estilo mais poético do que o habitual, conta-nos uma história de amizade, de partilha e de bom-senso, mas acima de tudo, remete-nos para o valor unitário do ser-humano inserido numa escala desmesuradamente superior. É neste contexto que o cineasta também nos conduz para o significado do tempo e da vida, tão efémera quanto a memória dos que cá ficam, dos que se lembram. Valores estes que depois são (re)tratados na sua maioria à distância, em magníficos planos gerais perfeitamente enquadrados sempre com as duas personagens (humanas e naturais), como se nunca tirasse partido apenas de um detalhe, ou da folha da árvore ou do rosto do homem, antes nos mostrando (e não sensibilizando) os acontecimentos, única e exclusivamente. Toda essa imponência fílmica e narrativa nunca é, nessa medida, desviada, nunca se desvirtua, porque invariavelmente aponta ao essencial e logo à profundidade que temas deste calibre requerem.


Soberba ainda a fotografia que completa o quadro e nos brinda com contrastes e luminosidades de paisagens absolutamente deslumbrantes. E se por um lado se pode dizer que este é um filme sobre a natureza, sobre a dualidade entre o natural e o artificial e sobre a noção de escala entre o Homem e o meio-ambiente, por outro, é acima de tudo um filme que nos transporta para a autenticidade e para a amizade na relação entre os seres-humanos, no caso de duas pessoas tão diferentes social e culturalmente, o que é extraordinário e simplesmente maravilhoso.

"How can man live in a box?"

Crítica nomeada em 'Melhor Crítica de Cinema' nos TCN Blog Awards 2012


Jorge Teixeira
classificação: 9/10

11.10.12

Citações (1)

Ben-Hur (1959), William Wyler


Sextus: You can break a man's skull. You can arrest him. You can throw him into a dungeon. But how do you fight an idea?
Messala: Sextus, you ask how to fight an idea. Well, I'll tell you how... with another idea!

7.10.12

5 Grandes Filmes de Terror (2)


The Innocents (1961)
Os Inocentes, Jack Clayton

Repulsion (1965)
Repulsa, Roman Polanski

The Shining (1980)
Shining, Stanley Kubrick

Videodrome (1983)
Experiência AlucinanteDavid Cronenberg

História de Duas Irmãs, Jee-woon Kim

por Jorge Teixeira e Pedro Teixeira

6.10.12

Full Metal Jacket (1987)

Nascido para Matar, Stanley Kubrick


Tudo na guerra é ridículo, é estapafúrdio, desde a fase de recrutamento em que se transformam homens singulares e conscientes em máquinas vulgares e básicas, até à fase da acção, do confronto bélico entre nações e entre seres ética e moralmente iguais. Kubrick condena isso, e com este filme tenta-o demonstar, talvez como nunca - a estupidez de todo este processo de matar e destruir a natureza e a própria humanidade.

O filme divide-se em duas partes, sendo a primeira a tal do recrutamento, em que os soldados são preparados e treinados para encarar o que se seguirá como inevitável e essencial. O homem desfigurado num monstro, num ser sem consciência e sem identidade. Na prática, é induzido a agir como se de uma criança se tratasse - nasceste para matar e para evitares seres morto, mas terás de ter fé para sobreviveres (passe o ironismo e a contradição), unicamente para continuares, outra vez, a matar. Portanto, a cruz, levada ao peito, é o veículo para não perder a esperança de forma a alcançar a tão desejada paz, tal como o capacete, no qual está escrito "born to kill", é o chamariz e a motivação para matar sem dó nem piedade. Mais incongruente que isto não sei o que será, de tão grave e ingénuo que é. Daí a infantilidade imposta e apre(e)ndida ferverosamente na fase de recruta, às custas de muito treino e disciplina (des-educação).


Numa segunda parte, seguimos os soldados já inseridos na acção, imersos nas tácticas e técnicas da guerra. Todo o vocabulário e o comportamento é, pois, ponto assente, está assimilado. O inimigo é o objectivo e o alvo a atingir, assim como o companheiro do lado é sagrado, é a única réstia de amizade, de valores e de humanidade que existe dentro de tais monstros. Pode-se brincar, desanuviar e até cantar, mas o cenário é de destruição, de fogo, e por isso nunca esquecível. 

Este mundo é, senão, terrivelmente simples, quais crianças - ou se está a matar, ou se está a conviver com os camaradas, ás vezes as duas coisas em simultâneo, mas sempre em convivência uma com a outra, como se ambas se pudessem sequer conjugar. Não há aqui, apesar de tudo, grandes responsabilidades, porque essas vêm de cima, das autoridades que controlam e manipulam estes verdadeiros peões no campo de batalha.


O drama é, deste modo, procurado e eficazmente transmitido, mas de forma algo satírica. Kubrick é exímio nesse retrato hilariante e nessa capacidade espirituosa de fugir a qualquer tipo de estrutura tipificada e clicherizada do sub-género (à data tão recorrente). Nesse sentido, a abordagem é invulgar, sendo a câmera interventiva e incisiva ocasionalmente, como se ela própria procurasse os segredos e as vergonhas por revelar, aqueles cadáveres que ninguém se quer lembrar, mas que estão lá, que aconteceram (o final da primeira parte alude a isso mesmo). Ainda no encalço da câmera se obtém alguns enquadramentos destacáveis, na evidência do seu propósito, dando a sensação que o realizador quer, de vez em quando e em pontos-chave, gravar-nos determinada ideia ou ilação sob um contexto perfeitamente delineado e assimilado.

Há cenas, igualmente, de absorver de tão marcantes que são (como aquela em que vemos os próprios soldados a filmar e a distribuir papéis uns aos outros em pleno tiroteio e ao som da faixa "Surfin' Bird"). Estas, invariavelmente, estão muito bem acompanhadas, seja ao som da excelente banda-sonora seleccionada, seja ao som de todo o ambiente recolhido e trabalhado, na alternância rítmica e ponderada entre ruídos e silêncios. Daí que a acção e o seu protagonista (que vai variando), assumem o controle total cena após cena, que por meio da realização, sobretudo dos travellings (estilo videojogo), nos vão induzindo para dentro das tácticas e das emoções, ao ponto de nos apercebermos da irrelevância e do absurdo de tudo isto, de toda a guerra em si. E é desta forma que Stanley Kubrick fornece a sua visão, exemplificada, neste caso, no Vietname, mas acima de tudo, na nossa consciência.

"I wanted to see exotic Vietnam... the crown jewel of Southeast Asia. I wanted to meet interesting and stimulating people of an ancient culture... and kill them."
Private Joker


Jorge Teixeira
classificação: 9/10