Raging Bull (1980), Martin Scorsese
Pertencente ao interlúdio da aclamada e famosa ópera Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni, este tema torna-se o elemento chave, qual cereja no topo do bolo, para a derradeira imortalidade e sucesso da obra de Scorsese. Na ausência de banda sonora, a presença desta música como que ainda ressoa, e a cena correspondente inicial perdura até aos dias de hoje, no que será provavelmente uma das melhores entradas de sempre de que o cinema já produziu. Transcendente e de rara poesia.
Por intermédio desta faixa, inserida no início e no final do acto (curiosamente os extremos do seu propósito original), o filme ganha todo um sentido mais uno, cíclico e completo, como uma porta que se abre e que se fecha quando já se contou tudo o que havia para contar, quando uma vida deixa de ter reflexões e memórias que valham a pena partilhar. Arrancamos, assim, de forma fulgurante, e porque não mágica, para uma experiência avassaladora, no seu núcleo fria e silenciosa, mas poderosa que baste e que se exceda, para no fim regressarmos novamente à contemplação e introspecção de uma autêntica lição de vida.
Já não vejo esse filme há tanto tempo (para poder verdadeiramente opinar sobre este caso) mas esta tua observação, de o inicio e fim do filme ao mesmo som, criandoe rersultando em valores diferentes sobre o tom que o filme nos deixa, fazem-me também lembrar o que Tarantino fez com o seu "Jackie Brown", que conseguiu-o usando uma mesma canção.
ResponderEliminarCheguei até a dedicar um artigo no meu blog "Ecos Imprevistos", que de alguma maneira nutre afinidades pelo teu (bom artigo e bom texto) Jorge.
http://armpauloferreira.blogspot.pt/2011/01/cine-cena-jackie-brown-abertura-e-o.html
ARMPAULOFER, É bem lembrado o filme do Tarantino, que consegue nas mesmas proporções elevar a narrativa para um sentido mais coerente e completo, mas que não alcança, contudo, a transcendência no resultado final que este Raging Bull atinge, e de que maneira.
ResponderEliminarANTÓNIO PALMA MENDES, Obrigado. Sim Scorsese sabe bem o que faz, e sobretudo sabe bem o que quer, tanto a nível estético e narrativo como sonoro, aqui tão bem escolhido e concretizado.
Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo
ResponderEliminarSe há coisa que gosto de discutir com cinéfilos são boas bandas sonoras. E o realizador mestre, se é que me permites essa opinião, a usar música nos seus filmes é Scorsese.
Foi buscar Herrmann para TAXI DRIVER (a última banda sonora que o gigante compôs), Mascagni para RAGING BULL - este tema basicamente compõe o pano de fundo da película, e depois tem colaborações de luxo com Philip Glass e Robert Richardson, usa música dos Rolling Stones, de Van Morrison, Bob Dylan, The Band, R.E.M., The Clash, Devo, Roxy Music, The Ronettes, usa Max Richter para SHUTTER ISLAND (In the Nature of Daylight)... Lindo. Haverá melhor?
Jorge Rodrigues
JORGE RODRIGUES, A banda sonora do Taxi Driver é igualmente muito boa, bem destacado, o que sustenta mais essa opinião, que concordo, de que Scorsese é um hábil manuseador de músicas para os seus filmes. Tal como dizes, para além de ter bom gosto, tem também muito olho para recrutar compositores, cada um melhor que o outro. Todos os exemplos que referes espelham bem essa virtude, que continue assim é o que desejo.
ResponderEliminarCumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo