3.7.13

Conversas Anónimas (2)

To the Wonder (2012), Terrence Malick


Sujeito X: Ontem vi o novo filme do Terrence Malick. Já viste?
Sujeito Y: Já e até que gostei, como não podia deixar de ser.
X: Por acaso não gostei muito. Desiludiu-me. Porque é que gostaste?
Y: Por causa de Malick, do seu modo de filmar e contar uma história a todos os níveis diferente e única.
X: Sim é diferente, mas em quase tudo muito semelhante ao The Tree of Life, de que gostei bem mais. Acho que não trouxe nada de novo. Repete fórmulas e às tantas reduz-se a uma sessão fotográfica ou a um álbum de postais. O que achas?
Y: Acho que essa semelhança é aparente, embora exista afinidades claro. Essa repetição de fórmulas, ao contrário do que dizes, não é negativa, é sim uma marca do cineasta num registo que é claramente autoral, independentemente da sua qualidade ou não, que, pessoalmente, acho que é muita, seja nos tais postais a trabalhar a luz e a sombra, seja nos planos a explorar a natureza e as emoções humanas. É difícil descobrir um realizador actual que nos ofereça tamanhos enquadramentos e sensações.
X: Percebo, mas curiosamente revejo isso tudo muito mais no The Tree of Life que propriamente neste To the Wonder,  em que acho que toda essa imponência fílmica e interpretativa se reduziu ou se esvaziou de significado. Não te parece que a narrativa, e comparando estes dois filmes, é pior neste último projecto de Malick
Y: Não. Parece-me, isso sim, que são duas abordagens completamente distintas na sua essência, embora semelhantes na sua forma e à superfície. São dois filmes que trabalham a níveis diferentes, um na glorificação da vida, o outro na dureza da realidade. The Tree of Life está para o universo e para a origem, como To the Wonder está para a terra e para a verdade.
X: Boa reflexão, não tinha pensado nisso. De qualquer modo, continuo a dizer que To the Wonder até pode ser formalmente interessante e ter mensagens importantes, mas no fim acaba por reflectir pouco no papel ou no ecrã tudo isso que pretende. Na prática, acho que o argumento não está ao nível da realização, esta que por sua vez já esteve melhor em outros filmes do realizador. Concordas?
Y: Nem por isso. A questão aqui é que equiparas o argumento à realização, se é que não o elevas. Ora eu, ao contrário, privilegio bem mais a realização, a filmagem e a significação em detrimento de tudo o resto, nomeadamente o argumento, que ainda assim tem o seu papel relevante no conjunto final.
X: Portanto, consideras que este To the Wonder é tão bom quanto The Tree of Life?
Y: Sinceramente não sei responder bem a essa pergunta. Essas catalogações por vezes são difíceis e inclusive infrutíferas. Posso dizer, contudo, que The Tree of Life tem uma importância e uma monumentalidade maior e que isso talvez lhe confira um estatuto mais alto. Mas, repito, To the Wonder não deixa nada a desejar, e é igualmente muito bom.

Nota: O conteúdo destas "Conversas" não reflecte, necessariamente, as opiniões dos autores do blogue. 

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