30.11.13
27.11.13
À Boleia (12)
Um convidado responde a questões nucleares ou essenciais sobre o cinema.
Obrigado, Rafael, pela colaboração.
Caminho Largo: Como evidencias em geral a qualidade de um filme?
Rafael Santos: No geral, o argumento é o selo de apresentação do filme. É o aspecto que me leva ou não a aconselhar determinado visionamento. No decorrer da minha primeira viagem a uma obra, tento absorver a total essência do argumento. Os visionamentos seguintes complementam o meu olhar perante esse mesmo filme. Posso agora deliciar-me com as questões técnicas e as opções estéticas tomadas. Posso procurar as características que espelham o autor por detrás, tentando inserir essa obra nos parâmetros da sua filmografia.
Posso desfiar as várias camadas de significado. E aí reside a verdadeira qualidade. No facto do filme poder não ser finito tal qual o pacote de pipocas que teima em integrar a experiência cinematográfica. Se um filme é transcendente ao ponto de me fazer viajar na minha própria mente, poderei atribuir-lhe qualidade? A subjectividade actua.
A Clockwork Orange. 2001: A Space Odyssey. Persona. 2046. Synecdoche, New York. Kynodontas. Dogville. Solyaris. Zerkalo. Requiem for a dream. Inúmeros outros que poderiam aqui constar. Filmes que não terminam aquando dos créditos finais. Ao invés, reproduzem-se vezes e vezes sem conta com o auxílio da memória. Apesar de partirem de um ponto de vista pessoal, engolem-me e fazem-me perante questões essenciais da humanidade. Sob o meu olhar, tornam-se assim transcendentes.
O argumento não é tudo. A trilogia "Before Sunrise/Sunset/Midnight" não seria titular da qualidade que apresenta se a química entre os protagonistas fosse inexistente. O argumento de determinado filme pode ser a ferramenta essencial mas perder-se-ia se não estabelecesse um diálogo com a montagem. A sua essência pode esfumar-se se o elenco não for competente e convincente na sua abordagem.
CL: Artisticamente falando, agarras-te mais aos argumentos e aos seus simbolismos ou a toda a estética e modo de filmar?
RS: Aquando da leitura desta pergunta é-me inevitável não trazer à memória o recente caso que se dá pelo nome de "Gravity". Ainda que não seja tão superficial quanto aparenta à partida, não é pelo argumento que será lembrado posteriormente. A estrondosa experiência advém da realização de Cuarón. Os planos-sequência absolutamente brilhantes que nos remetem para um tempo e espaço real. Os movimentos de câmara que cobrem a acção necessária e que enlouquecem os sentidos do espectador. A mestria da direcção de fotografia que nos faz esquecer o facto da filmagem ter lugar num estúdio. Este é apenas um pequeno grande exemplo do prevalecer da estética em detrimento do argumento. Num cenário ideal, um filme cativa-me por saber conjugar as duas proposições presentes na pergunta. Tendo enaltecido anteriormente um filme decorrido no espaço, imediatamente a minha memória traz à tona "Solyaris" e "2001: A Space Odyssey". Estes dois filmes conseguem fazer essa conjugação de forma perfeita.
A estética e o modo de filmar são alguns dos principais factores que me fazem idolatrar o cinema de autor. Por outro lado, o argumento e os seus respectivos simbolismos fazem-me querer rever determinado filme inúmeras vezes. Tal como referi na questão anterior, a cada nova visualização é revelada uma nova camada de significado.
Todos estes elementos acabam por não ser independentes. Um argumento pode recorrer à estética para transmitir certos simbolismos. E obviamente, as opções tomadas pela "câmara" seguem a linha de argumento.
CL: Identificas-te mais com o academismo ou com o experimentalismo? Em que sentido as duas vertentes apoiam e completam o cinema?
RS: Com o experimentalismo. Mas atribuo igual valor a ambas as vertentes. O experimental é a via livre de pensamento, organizada na sua desorganização. Surgem novas ideias, novos movimentos artísticos, novas linhas de pensamento. Mas o que seria desse veículo alternativo sem o academismo como catapulta? Afinal de contas, para quebrar os moldes temos de conhecer os seus contornos. É preciso conhecer o filme para elaborar o anti-filme.
CL: Actualmente a sociedade e a cultura é muito dependente da sétima arte? E vice-versa?
RS: O cinema bebe as questões da humanidade. Recorre a acontecimentos mundiais para os difundir no grande ecrã.
Uma ida ao cinema torna-se um ritual, um traço cultural. A sociedade necessita de uma fuga. Uma fuga à realidade. Encontra-a na sétima arte. Gradualmente, o ser humano começa a exibir dificuldades em distinguir a realidade da ficção.
"Parecia mesmo um filme": frase-padrão que tantas vezes preenche a voz do ser humano, quando este se encontra perante um acontecimento improvável. O mundo diegético apresentado no ecrã torna-se o modelo de primeira ordem. Onde reside o real?
CL: Comenta a seguinte citação do realizador Lars Von Trier: "Um filme deve ser como uma pedra no sapato."
RS: A citação destacada espelha na perfeição a essência do seu próprio cinema. A sua filmografia não ousa carecer do choque, essa que parece ser a sua palavra de partida. Lars von Trier pretende incomodar o espectador, fazê-lo reflectir sobre o monstro que há em si. Quer que os seus filmes se tornem uma experiência indigesta para o corpo e mente. Tornam-se assim elementos integrantes da vivência do indivíduo.
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À Boleia,
Convidados,
Entrevistas
24.11.13
20.11.13
À Boleia (11)
Um convidado responde a questões nucleares ou essenciais sobre o cinema.
Obrigado, Roberto, pela colaboração.
Caminho Largo: Quais são para ti os principais factores para a qualidade de um filme?
Roberto Simões: Irei direto ao assunto. Para mim, o principal fator para a qualidade de um filme é o casamento entre o argumento, o movimento da câmera (da realização) e a fotografia e a beleza maior que daí pode provir, capaz de me emocionar ou de alguma forma transcender enquanto espetador. Logo depois, é importante que o mesmo efeito seja causado por qualquer outro aspeto do filme, a interpretação dos atores, a banda sonora ou o silêncio, essencialmente. Dificilmente aspetos mais técnicos me influenciarão, por si só, a qualificar um filme ao nível da excelência sem que esta base esteja assegurada.
CL: Preferes bons argumentos com fracas realizações ou boas realizações com fracos argumentos? Ou depende e ambas as situações são equiparáveis?
RS: O ponto de partida para qualquer grande filme é o argumento (não propriamente o guião). Por isso penso que o argumento prevalece sobre a realização. A técnica do cineasta pode ser tremenda, mas se não tem uma boa ideia a desenvolver e a contar com a sua arte, para que serve o seu filme senão para uma experiência? Só se estivermos a falar de cinema experimental; nesse caso já não podemos ver a questão com os mesmos olhos.
Contudo, ainda não respondi à pergunta (naturalmente prefiro sempre os filmes em que ambos, argumento e realização se elevem; o tal casamento a que me referia na questão anterior). Para respondê-la tentei ser objetivo e analisar as minhas listas de filmes, classificados por pontuações, e referir-me a casos concretos. Não encontrei propriamente casos de bons argumentos com fracas realizações nem casos de boas realizações com fracos argumentos; encontrei, sim, casos com algum desnível entre ambos argumento e realização, os quais nunca classifiquei como excelentes ou muito bons filmes. Ao nível do bom, já identifico alguns exemplos, de argumento superior à realização. Vejamos o caso de Colisão de Paul Haggis, de Os Coristas de Christophe Barratier, de Elizabeth ou As Quatro Penas Brancas de Shekar Kapur, de O Fantasma da Ópera de Joel Shumacher ou Gattaca de Andrew Niccol. Somente ao nível do razoável e do fraco identifico alguns exemplos de realização superior ao argumento. É o caso de Avatar de James Cameron, de Eu Vos Saúdo, Maria de Jean-Luc Godard ou de Piratas das Caraíbas - Nos Confins do Mundo, de Gore Verbinski. Se me é permitida alguma conclusão após tão pragmática reflexão, concluo, portanto, que prefiro bons argumentos com realizações inferiores do que boas realizações com argumentos mais fracos.
CL: O cinema é arte e entretenimento. Separando, se é que se pode separar, em qual das duas definições te revês mais? Porquê?
RS: Arte, claramente, porque aquilo que me apaixona pelo cinema não são os documentários, as comédias ou os filmes de aventura e ação que me permitem rir, passar um bom bocado ou tão-somente escapar à minha realidade, a não ser que sejam artísticos (conhecendo nós toda a problemática no que concerne à definição do objeto artístico). Aquilo que mais me apaixona é a arte pela arte, a superação da imagem em movimento, da música e da palavra na criação de uma dimensão quase divina e transcendente, bela e de maior consciência.
CL: Onde se encaixa o cinema na cultura em geral? O seu papel actualmente é determinante ou acessório?
RS: Apesar de para mim representar a união da literatura, do teatro, da pintura e da fotografia, a fusão maior das artes (e das minhas paixões), o cinema é mais uma arte, capaz de movimentar tanto massas como meia dúzia de gatos pingados, consoante a natureza do objeto fílmico. Talvez por esse mesma fusão, no entanto, detenha um papel de especial relevo na transmissão de valores, ideais e influências.
CL: Comenta a seguinte citação do realizador Martin Scorsese: "Cinema é a importância do que está dentro do quadro e o que está fora."
RS: Necessariamente e por mais criativa ou fantasiosa que seja a pintura, a arte, o filme em si, será sempre uma representação. Qualquer representação se baseia no mundo que observamos e conhecemos, no que está fora do quadro. O que está fora confere significado ao que está dentro; aliás, a leitura, a interpretação pode variar consoante o fora em que se está. Da mesma forma, também o dentro significa o que está fora, dando muitas vezes novos mundos ao mundo. O objeto artístico, por si só, não é mais do que matéria. Só pelo nosso olhar ganha sentido e existência.
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Convidados,
Entrevistas
CCOP: Top de Outubro de 2013
Outubro foi um dos meses do ano com estreias mais interessantes: algo que se nota pelas notas médias dos principais filmes da tabela, alguns deles com esperanças para os Oscars 2014. Entre 50 filmes estreados comercialmente em Portugal (incluem-se algumas curtas-metragens e uma reposição de uma longa), apenas quinze obtiveram amostragem suficiente para serem consideradas para o top mensal. A liderar o Top de Outubro surge Noah Baumbach e Greta Gerwig, no filme Frances Ha. O filme, que recebeu recentemente uma edição em Blu-ray da Criterion, foi classificado com a nota média de 8,38 em 10. Esta nota permite-lhe a entrada directa na terceira posição do top do ano, ex-aequo com o romeno Beyond the Hills (Dupa dealuri) (Para Lá das Colinas). A segunda posição é ocupada por um dos filmes mais comentados do ano e que agradou também aos críticos do CCOP: Gravity (Gravidade), de Alfonso Cuarón recebeu a nota média de 8,22 e um lugar directo na oitava posição do top anual. Já a finalizar o pódio, dois filmes surgem lado a lado, com uma classificação de 8: Prisoners (Raptadas), de Denis Villeneuve e Captain Phillips (Capitão Phillips), de Paul Greengrass. Apesar da nota, não conseguiram figurar no top 10 do ano, cujo último lugar está agora ocupado por Blancanieves (Branca de Neve) e Rabbit Hole (O Outro Lado do Coração), ambos com uma classificação média de 8,10.
Para consultar os tops anteriores referentes aos restantes meses do ano, assim como o top anual actualizado ou ainda outras informações seguir para o site oficial do Círculo de Críticos Online Portugueses aqui. Eis então o top completo dos filmes, com suficiente amostragem, estreados em Portugal em Outubro de 2013:
Para consultar os tops anteriores referentes aos restantes meses do ano, assim como o top anual actualizado ou ainda outras informações seguir para o site oficial do Círculo de Críticos Online Portugueses aqui. Eis então o top completo dos filmes, com suficiente amostragem, estreados em Portugal em Outubro de 2013:
1. Frances Ha (2012)
Noah Baumbach | 8,38
2. Gravity (2013)
Gravidade, Alfonso Cuarón | 8,22
3. Prisoners (2013)
Raptadas, Denis Villeneuve | 8,00
3. Captain Phillips (2013)
Capitão Phillips, Paul Greengrass | 8,00
5. Animal Kingdom (2010)
Reino Animal, David Michôd | 7,86
6. Mud (2012)
Fuga, Jeff Nichols | 7,78
7. Four Lions (2010)
Quatro Leões, Christopher Morris | 7,25
8. Io e Te (2012)
Eu e Tu, Bernardo Bertolucci | 7,17
9. Hannah Arendt (2012)
Margarethe von Trotta | 7,00
9. Rush (2013)
Rush - Duelo de Rivais, Ron Howard | 7,00
9. About Time (2013)
Dá Tempo ao Tempo, Richard Curtis | 7,00
12. Perfect Sense (2011)
O Sentido do Amor, David Mackenzie | 6,50
13. This Is the End (2013)
Isto é o Fim!, Evan Goldberg e Seth Rogen | 6,40
13. Don Jon (2013)
Joseph Gordon-Levitt | 6,40
15. The Call (2013)
A Chamada, Brad Anderson | 5,83
Dá Tempo ao Tempo, Richard Curtis | 7,00
12. Perfect Sense (2011)
O Sentido do Amor, David Mackenzie | 6,50
13. This Is the End (2013)
Isto é o Fim!, Evan Goldberg e Seth Rogen | 6,40
13. Don Jon (2013)
Joseph Gordon-Levitt | 6,40
15. The Call (2013)
A Chamada, Brad Anderson | 5,83
17.11.13
5 Grandes Filmes de Western (1)
My Darling Clementine (1946)
A Paixão dos Fortes, John Ford
Colorado Territory (1949)
Golpe de Misericórdia, Raoul Walsh
Johnny Guitar (1954)
Nicholas Ray
The Man Who Shot Liberty Valance (1962)
O Homem Que Matou Liberty Valance, John Ford
C'era una volta il West (1968)
Aconteceu no Oeste, Sergio Leone
por Jorge Teixeira e Pedro Teixeira
14.11.13
13.11.13
Manual de Regras (10)
Cleopatra (1963)
Cleópatra, Joseph L. Mankiewicz, Rouben Mamoulian e Darryl F. Zanuck
categorias:
Cleopatra (1963),
Exercícios,
Manual de Regras
10.11.13
Cenas (8)
Network (1976), Sidney Lumet
Assustadoramente actual de tão certo e de tão previsível que se torna, esta cena é senão uma chamada de atenção e um grito de revolta de uma sociedade que cada vez mais está presa ou se prende a si mesma sem se dar conta. "Enlouqueçam" diz às tantas repetida e derradeiramente Howard Beale (Peter Finch numa performance delirante e arrebatadora) - "Mad as Hell" - como a frase final de efeito e de propaganda da revolução.
Extraordinária composição de visão e pensamento, no meio (a televisão) que atinge o seu fim (o espectador) e vice-versa, ou ainda numa mistura praticamente imperceptível de realidade com ficção. Nunca é demasiado tarde, por isso, para abrirmos os olhos seja para o que for, sobretudo quando se relaciona com a integridade e a sanidade do ser-humano. Uma pequena cena que tem o alcance e o valor do mundo.
Extraordinária composição de visão e pensamento, no meio (a televisão) que atinge o seu fim (o espectador) e vice-versa, ou ainda numa mistura praticamente imperceptível de realidade com ficção. Nunca é demasiado tarde, por isso, para abrirmos os olhos seja para o que for, sobretudo quando se relaciona com a integridade e a sanidade do ser-humano. Uma pequena cena que tem o alcance e o valor do mundo.
9.11.13
À Pergunta da Resposta (7)
Pergunta:
Um filme que manifeste a crueldade, a sobrevivência e o perdão associados?
Resposta:
(na resposta à questão está uma palavra a reter)
(na resposta à questão está uma palavra, no plural, a reter)
(na resposta à questão está um nome a reter)
Pergunta:
Um filme que manifeste a crueldade, a sobrevivência e o perdão associados?
Resposta:
A resposta está nas pistas ou no que elas sugerem.
Adivinha qual o filme?
(soluções posteriormente nos comentários)
(os textos e as publicações envolvidas nas pistas são de consulta e leitura obrigatória)
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À Pergunta da Resposta,
Exercícios